Entrevista a Jorge Carvalho: “não há condições internas para voltar a ser candidato pelo BE em Alijó”

[vc_row][vc_column width="1/6"][bs-user-listing-4 columns="1" title="Entrevista" icon="" hide_title="0" heading_color="#dd3333" heading_style="t7-s1" title_link="" filter_roles="0" roles="" count="1" search="" order="DESC" order_by="user_registered" offset="" include="15" exclude="" paginate="none" pagination-show-label="0" pagination-slides-count="3" slider-animation-speed="750" slider-autoplay="1" slider-speed="3000" slider-control-dots="off" slider-control-next-prev="style-1" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" custom-css-class="" custom-id="" override-listing-settings="1" listing-settings="title-limit=25&social-icons=1&social-icons-limit=6&show-biography=0&biography-limit=65&show-ranking=&show-posts-url=0&" bs-text-color-scheme="" css=".vc_custom_1598300700774{margin-bottom: 150px !important;}"][better-ads type="banner" banner="3816" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][/vc_column][vc_column width="2/3"][vc_single_image image="7892" img_size="1299x631" css=".vc_custom_1598397372797{margin-right: 25px !important;margin-left: 25px !important;}"][vc_separator color="black" el_width="40"][vc_custom_heading text="ENTREVISTA: CELINA MARTINS" font_container="tag:p|font_size:24px|text_align:center|color:%23777777" google_fonts="font_family:Source%20Sans%20Pro%3A200%2C200italic%2C300%2C300italic%2Cregular%2Citalic%2C600%2C600italic%2C700%2C700italic%2C900%2C900italic|font_style:200%20light%20italic%3A200%3Aitalic" css=".vc_custom_1598221517438{margin-top: -25px !important;}"][vc_separator color="black" el_width="40" css=".vc_custom_1598397529307{margin-top: -6px !important;}"][vc_column_text css=".vc_custom_1598397427012{margin-right: 25px !important;margin-left: 25px !important;}"]É natural a expectativa dos alijoenses sobre a recandidatura de Jorge Carvalho no concelho às eleições autárquicas que se aproximam. Numa altura em que todos os partidos se começam a posicionar localmente para esse novo combate, muitas são as pessoas que interrogam o ex-candidato do Bloco de Esquerda (BE) sobre a sua recandidatura em 2021. A resposta é dada em primeira mão ao Notícias do Nordeste. “Não. Não serei candidato pelo BE em Alijó. Neste momento não há condições internas para o poder fazer”, disse-nos Jorge Carvalho.

Aquele que protagonizou uma das candidaturas do BE de maior sucesso no interior do país, ficando a escassa meia centena de votos de ser eleito vereador num concelho com um eleitorado tradicionalmente fechado aos partidos de esquerda como o BE, sai agora da cena política partidária por uma porta entreaberta, ou por uma porta que nunca verdadeiramente lhe foi franqueada, como nos revelou Jorge Carvalho.

O projeto político construído em Alijó à volta do BE deu os únicos eleitos em Assembleias Municipais e em Assembleias de Freguesia pelo partido em todo o distrito de Vila Real nas últimas autárquicas de 2017, num total de seis eleitos, dois para a Assembleia Municipal e quatro para as Assembleias de Freguesia. Um projeto  assim bem se pode considerar como coroado de sucesso,  por ter nascido sob a bandeira do BE num concelho onde a votação neste partido era praticamente residual. De todo um trabalho desenvolvido em curto espaço de tempo, Jorge Carvalho deixa um ativo de 745 votos no concelho de Alijó, que agora o partido e a nova equipa local vão ter que gerir nas próximas eleições de 2021.

Mas o que foi que esteve na base do desmoronamento da liderança política concelhia do BE em Alijó e de todo um projeto político à esquerda, que pelo sucesso alcançado, se poderá apodar de dinâmico e inovador?  Foi isso que o Notícias do Nordeste com esta entrevista pretendeu apurar junto de Jorge Carvalho.[/vc_column_text][vc_separator color="black" el_width="50"][vc_column_text css=".vc_custom_1598397452848{margin-right: 25px !important;margin-left: 25px !important;}"]Notícias do Nordeste (NN): O Jorge Carvalho teve um dos melhores resultados nacionais em concelhos do interior, como candidato local do BE nas últimas eleições autárquicas em Alijó. Vai apresentar-se novamente aos eleitores pelo BE nas próximas eleições de 2021?

Jorge Carvalho (JC): Como é sabido, demiti-me da Distrital de Vila Real do BE por sentir uma discriminação negativa por parte de alguns dos seus elementos, assim, a única coisa que posso garantir é que nunca fui contactado pelo BE para esse efeito.

Diria mais. Esses resultados que refere e bem, não são meus. São fruto de uma equipa que trabalhou incansavelmente. São de todos quantos se envolveram de corpo e alma a troco de nada, mas apenas, por acreditarem incondicionalmente na causa e, sobretudo, por defenderem também eles o melhor para o concelho de Alijó.

NN: Mas o BE vai apresentar candidato?

JC:  Não sei mesmo responder a essa questão. Nem faço futurologia. A única coisa que posso afirmar por me ter sido dito, valendo o que vale, é que alegadamente alguém do BE andou e anda a efetuar convites por este concelho fora. Quanto a mais não sei. Mas não sou terceiras escolhas de ninguém!

NN: Então não vai ser de novo candidato pelo BE em Alijó nas próximas eleições autárquicas?

JC:  Não. Nem eu nem o cabeça de lista eleito para a Assembleia Municipal. Neste momento não há condições internas para o poder fazer.

[caption id="attachment_7907" align="alignleft" width="820"] Jorge Carvalho: “Não. Não serei candidato pelo BE em Alijó. Neste momento não há condições internas para o poder fazer”[/caption]

NN: Mas acha que o BE vai apresentar uma candidatura forte em Alijó?

JC: Não sei. Não posso falar pelas candidaturas futuras fortes ou fracas do BE em Alijó. Posso-lhe falar da que eu encabecei nas passadas eleições. A nossa candidatura tinha uma força que poucos conheciam e menos ainda acreditaram. Alguns até subestimaram e por isso pagaram caro.

Tenho para mim que os resultados históricos alcançados pela nossa equipa nas últimas eleições respondem a esta questão. Ficámos a meia centena de votos para eleger um vereador. Elegemos dois deputados da Assembleia Municipal e vários nas Assembleias de freguesia. Desbravámos caminhos que tinham tanto de novo como de penoso.

O BE tem agora o trilho em aberto e com todas as condições para superarem o nosso resultado, só precisam de encarar esta missão com a seriedade que ela exige e tratar os eleitores que em nós confiaram com respeito.

NN: Quer com isso dizer que o BE distrital desrespeitou a vossa candidatura e os vossos eleitores?

JC: Isso não são palavras minhas. Quero com isto dizer o que digo: quem dá o que tem a mais não é obrigado. A nossa equipa vestiu a camisola do concelho sem nunca desrespeitar o BE e, também por isso, o próprio Partido deveria ter vestido a nossa camisola, a camisola do concelho!

NN: E não vestiu?

JC: Vestiu do avesso! (Risos)

NN): Que quer dizer com isso? Pode ser mais concreto?

JC: Quero dizer que ao contrário do que muitos esperavam, até mesmo nós, o nosso resultado foi tão grande que ao invés de criar reconhecimento e união dentro do Partido, tornou-se numa ameaça e num alvo a abater.

NN:  Quer dizer que o abateram?

JC:  Não. Espero estar enganado, mas abateram-se localmente a eles próprios. Infelizmente, ainda há Partidos tão cegamente urbanos que falam nas raízes e na essência dos Povos, mas que na prática ignoram e desprezam o restante território.

NN:  Mas o caso do concelho de Alijó,  (e também de Mesão Frio), não deveria ter sido um fundamento motivacional e um fator de alavancagem para fazer crescer o partido em localidades do interior, nomeadamente no distrito de Vila Real?

JC:  Disse bem: deveria! Mas quando as estruturas estão recheadas de subalternos, quaisquer outras vozes que os superem através do trabalho são encarados como ameaças e não como parceiros ou aliados, portanto, são para silenciar!

NN:  Silenciaram-no ou fechou a porta?

JC:  Não, não me silenciaram. Quanto ao fechar da porta, para o Concelho e conterrâneos nunca! Se se refere ao Partido, não se fecha uma porta que nunca nos foi totalmente aberta!

[caption id="attachment_7890" align="alignleft" width="2400"] Jorge Carvalho: "O meu maior ponto fraco é, por mais paradoxal que pareça, o amor por esta terra! E por isso paguei muito caro nos últimos anos, sobretudo desde que fui candidato."[/caption]

NN:  Que tem a dizer sobre o CHEGA?

JC:  Que, embora esteja a engordar graças ao esvaziamento das franjas dos fascistas oriundos do CDS e do PSD, me preocupa o seu crescimento. São modas e tendências que não devemos sobrevalorizar, pois são resultado das más politicas, dos maus políticos e dos grupos extremistas organizados nos últimos anos!  Mas, tão grave quanto estes, são os fascistas assintomáticos que recheiam a nossa sociedade.

NN:  Qual considera ser o seu maior ponto forte?

JC:  Isso é uma questão repleta de rasteiras. A nossa força sentimo-la no dia-a-dia. Em cada momento que representamos as pessoas que confiaram em nós, procurando nunca as defraudar e em cada vez que estávamos com eles a ouvir e partilhar das suas preocupações e necessidades. Quando sentimos o dever cumprido, sentimo-nos engrandecidos. Eu fui um privilegiado por ter a equipa que tive sempre ao meu lado e pelas pessoas que em nós confiaram.

NN:  E o maior ponto fraco?

JC:  O meu maior ponto fraco é, por mais paradoxal que pareça, o amor por esta terra! E por isso paguei muito caro nos últimos anos, sobretudo desde que fui candidato.

NN:  Como avalia este último mandato do executivo em exercício na Câmara de Alijó?

JC:  Tenho uma perceção muito pessoal das coisas enquanto cidadão, pelo que qualquer opinião minha é exclusivamente minha evitando sempre julgamentos de qualquer outro carácter.

O mandato ainda está a decorrer. Estamos a um ano de eleições. Muita coisa vai acontecer. Todos sabemos como o ano das eleições é profícuo em obras e favores.

Não sou um profeta da desgraça, mas também não me resigno às evidências das limitações que de certa forma hipotecam o desenvolvimento das terras e o futuro dos nossos filhos.

Mas custa-me a crer que no ano que falta tripliquem a Zona Industrial ou que o campo de aviação deixe de ser uma coutada de caça.

NN:  E que tem a dizer sobre o PS de Alijó, o maior partido da oposição?

JC:  É um Partido que me merece o maior respeito, mas que tem muita culpa no cartório e que, até pela sua força histórica e representação local, deveria ser mais produtivo na oposição e mais construtivo na defesa dos interesses de todos nós.

Terá, a meu ver, de reestruturar os seus quadros de pessoal e reformular as suas politicas locais, pois tem muita gente com valor que espero não se perca e menos ainda embarquem em complôs e erros do passado recente que não deixaram saudades a ninguém e pelas quais pagaram e pagam ainda atualmente bem caro! Eles e todos nós!

NN:  O que poderia convencê-lo a ser novamente candidato?

JC:  A força do meu ponto fraco. (Risos)

NN:  Quer deixar uma mensagem a alguém?

JC:  Sim. Quero agradecer o convite e a oportunidade desta entrevista da qual me sirvo para retribuir o meu reconhecimento por todos quantos nos representaram nas assembleias ao longo destes anos, bem como, deixar uma palavra de apreço àqueles que acreditaram e se juntaram a nós. Muito obrigado.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/6"][better-ads type="banner" banner="3816" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][vc_empty_space height="52px"][better-ads type="banner" banner="3816" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][/vc_column][/vc_row]

Paulo Patoleia: o fotógrafo da Alma Transmontana

[vc_row][vc_column width="1/4"][bs-push-notification style="t2-s1" title="Subscribe for updates" show_title="0" icon="" heading_color="" heading_style="default" title_link="" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" bs-text-color-scheme="" css="" custom-css-class="" custom-id=""][/vc_column][vc_column width="3/4"][vc_column_text]Paulo Patoleia fotografa rostos. Rostos de gente simples, de gente digna. Pela objectiva do fotógrafo transmontano entra a alma do seu povo. A essência antiga de um povo resistente, envelhecido, simples e humano.


O fotógrafo tem o condão de captar sentimentos e expressões que constituem verdadeiros documentos antropológicos.


Nas fotografias de Paulo Patoleia surgem pinceladas de uma estética realista que transformam o seu autor num dos mais interessantes retratistas da região transmontana.


Paulo Patoleia iniciou-se na fotografia em 1995 e desde aí não parou de fazer o registo das pessoas que mais gosta de fotografar.


Para além da exposição “Rostos Transmontanos”, que Paulo Patoleia gostaria de ver circular por toda a região transmontana, existe ainda o projecto do lançamento de um livro para o próximo mês de Setembro.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

«Os plásticos podem ser usados de forma mais responsável e adequada»

Entrevista a Elvira Callapez , investigadora FCT no CIUHCT-FCUL. «Em Portugal, as resistências a propostas novas continuam a imperar, certas universidades continuam a premiar a endogamia e outras pouco ou nada promovem a competição saudável entre pares.»

Elvira Callapez
Pode descrever de forma sucinta (para nós, leigos) o que faz profissionalmente?

De momento coordeno um projecto de investigação, financiado pela FCT, sobre a história dos plásticos, intitulado O Triunfo da Baquelite – Contributos para uma história dos plásticos em Portugal, desenvolvido no Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia, da Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa CIUHCT-FCUL. O termo “baquelite” é desconhecido pela grande maioria do público e não só, pelo que se justifica desde já a sua definição. A baquelite é o primeiro plástico, material totalmente sintético, criado pelo homem, sintetizado em 1907 por Leo Hendrick Baekeland (1863-1944) e comercializado em grande escala em 1910).

O projecto propõe-se investigar aspectos da história dos plásticos em Portugal, alicerçando-se em estudos técnico-científicos e histórico-sociais, de história da ciência e da tecnologia e de cultura material. Pretende-se realçar os aspectos tecnocientíficos dos plásticos (e a sua comunicação ao grande público); a necessidade de preservar os objectos de plástico; a importância do plástico na evolução do design industrial, na estratégia das empresas e na vida quotidiana; a relação da indústria de plásticos com os seus actores (trabalhadores e elites locais) e com outras indústrias (eléctrica e de vidro) e ainda questões energéticas e ambientais relacionadas com os plásticos. Em suma, um dos objectivos deste projecto é estudar o impacto dos plásticos na sociedade portuguesa, desde a sua chegada em meados de 1930, através da baquelite, num país agrícola, sem investigação química e tecnológica nem tradição industrial, em contraste com os países industrialmente mais avançados, onde o plástico já se assumia como emblema da modernidade.

Este é um projecto que tem suscitado interesse a nível internacional, pelo que já inspirou a criação de Plastics Heritage European Association (PHEA), a fim de estabelecer uma rede que facilite a cooperação entre organizações e instituições, tais como universidades, departamentos, centros de investigação, museus e sociedades, em torno dos materiais plásticos. Permite desenvolver actividades, com foco em estudos culturais, técnicos, científicos, catalogação, popularização, e conservação do património comum de materiais e objectos históricos poliméricos (HIPOMs), em diversas áreas como arte, design, arquitectura, etnologia, ciência, tecnologia, indústria, bem como em arquivos e bibliotecas.

Agora pedimos-lhe que tente contagiar-nos: o que há de particularmente entusiasmante na sua área de trabalho?

A docência e a investigação são simultaneamente profissões e missões que classifico de nobres pela sua exigência, pela liberdade para criar, inovar e estabelecer relações com outras expressões culturais. A área de trabalho a que me dedico, História da Ciência e da Tecnologia, é deveras gratificante, estimulante e motivadora, mostrando o lado belo e humano de uma área de conhecimento muitas vezes vista como fria, neutra, objectiva e muito bem sucedida, como é o caso da ciência e da tecnologia.

Especificamente, a minha investigação centra-se na história dos plásticos, materiais que, infelizmente, são mal vistos/avaliados pela população em geral embora sejam apenas conhecidos por uma pequena franja. As emoções que os plásticos suscitam resultam mais de campanhas que os desprestigiam, apoiando-se em ocorrências como a morte de tartarugas, baleias, etc., o que fere a sensibilidade das pessoas. Pela comunicação social vai-se contactando com os alarmismos sobre as preocupações em torno das implicações ambientais do uso de plásticos, algumas legítimos e outras não. Mas um rápido olhar para a história do material revela o outro lado da questão. Os plásticos foram originalmente “inventados” para substituir o marfim, uma substância "natural", cujo uso hoje é responsável pela extinção de grandes mamíferos, como o Rinoceronte Negro. Como a maioria dos materiais, os plásticos podem ser usados de forma mais responsável e adequada, quando melhor compreendidos. A realidade é que no mundo contemporâneo, os plásticos nos rodeiam e continuarão a ser importantes para nossa vida diária. Basta olharmos para nós próprios, para o que vestimos, para o que comemos, para os objectos do nosso dia-a-dia, em casa ou no trabalho, para comprovarmos que os plásticos são materiais únicos, com propriedades e características incomuns, que os tornam ideais para uma grande variedade de usos. Um entendimento apropriado desses materiais conduzirá a um desenvolvimento sustentável e inovador.

Para o plástico do século XXI, de facto, recomendo que não devemos manter os hábitos de desperdícios de produção e consumo de plástico do século XX. Temos a tecnologia para fabricar plásticos melhores e mais seguros, a partir de fontes renováveis que causam danos mínimos ou inexistentes no planeta e na nossa saúde. Temos políticas públicas que incentivam à construção de melhores sistemas de reciclagem e que até responsabilizam as empresas pelos produtos que colocam no mercado. Então, por que motivo surgem campanhas tão agressivas contra o plástico? Ao invés, deixo a ideia de fazermos o mesmo que nos Estados Unidos da América, onde um grupo de professores de ciência se voluntaria para fornecer, aos colegas professores dos ensinos básico e secundário, informações sobre materiais poliméricos e estratégias para incluí-los nos curricula. São os Embaixadores Polímeros, que têm a missão de promover a educação e o ensino de polímeros junto aos professores, alunos e público, com a ajuda de recursos de sociedades educacionais, industriais e profissionais.

Na realidade, os plásticos são objectos neutros, e todos os problemas que lhe são imputados resultam do comportamento dos humanos e não deles per se. Os plásticos merecem as preocupações? Facilitaram e facilitam o consumismo? De qualquer forma, nós precisamos deles. Para melhor conhecimento e divulgação dos plásticos, planeamos inaugurar uma exposição sobre plásticos em Abril de 2019, no Museu de Leiria e organizar um congresso internacional sobre plásticos, eventos para os quais são todos bem vindos .

Por que motivos decidiu fazer períodos de investigação no estrangeiro e o que encontrou de inesperado nessa realidade académica?

Todo o meu percurso académico universitário, pré-Bolonha (Bacharelato, Licenciatura, Mestrado e Doutoramento) foi feito em Lisboa, num tempo em que não havia as facilidades nem as possibilidades de mobilidade de que gozam os jovens actualmente. Passei pelo ISEL e pela FCT-UNL, viajando para os Estados Unidos da América, em 2004, para a Universidade da Califórnia, Berkeley (UCB), onde realizei o pós-doutoramento na área de História da Ciência e Tecnologia. Os Estados Unidos da América são muito fortes e têm uma enorme tradição na área de História da Ciência e Tecnologia. Nas grandes escolas como Harvard, Berkeley, Stanford, Los Angeles, etc. passaram e passam nomes de primeira linha na História da Ciência e Tecnologia, como por exemplo, George Sarton, Thomas Kuhn, Paul Feyerabend, Stephen Jay Gould, Thomas Hughes, e muitos mais. Foram estes os factores que orientaram a minha opção para ir para os Estados Unidos da América fazer estudos complementares. Um sinal bem visível da boa prática de investigação científica e respeito pelo trabalho de um investigador, nesse país, manifestou-se, por exemplo, na resposta assertiva da UCB ao meu pedido para levar a cabo, nas suas instalações, o projecto que tinha em mente.

Por vezes o nosso próprio país não proporciona aquelas condições pelas quais lutamos, pelas quais ansiamos. Felizmente, o estrangeiro apresenta soluções para quem quer fazer ciência e tecnologia com todas as suas forças e capacidade, os nacionais emigram para os locais que melhor os acolhem. Por outro lado, este grupo especial de pessoas sabe que a mobilidade traz vantagens a todos os níveis. Os benefícios daí advindos não se traduzem apenas na aquisição de conhecimentos académicos mas também no enriquecimento pessoal. A diversidade de contactos humanos, de estratégias e metodologias de trabalho, a transferência de saberes que se efectiva, a relação informal, despretensiosa e simples que se estabelece com as figuras de primeiro plano mundial na nossa área de estudos, constituem motivações acrescidas para se gostar de trabalhar no estrangeiro. Algo de que espero não me esquecer diz respeito à forma positiva como os colegas se relacionam e a não cultura da lamúria e das queixas, mas sim da exigência, do estímulo, da promoção do debate, do respeito pelas ideias, pelo espaço e pelo tempo dos outros.

Que apreciação faz do panorama científico português, tanto na sua área como de uma forma mais geral?

Lembro-me que em 2006, a Portuguese American Post-Graduate Society (PAPS), de cuja direcção fiz parte, elaborou uma inovadora Declaração de Princípios Orientadores para a Revisão do Estatuto da Carreira Docente Universitária, em vigor na época, mas não vejo postos em prática esses princípios que romperiam e resolveriam, seguramente, muitos dos problemas denunciados e sentidos actualmente. Há que fazer justiça e devo confessar que depois de Mariano Gago, apesar de haver tentativas para melhorar o panorama científico e tecnológico, surgiu o monstro da troika… Actualmente assiste-se a um descontentamento geral sobre as políticas científicas, nos diferentes graus de ensino. As críticas giram sempre à volta de condições de trabalho, falta de recursos (monetários, humanos, etc.) estagnação de carreiras, precariedade no trabalho, etc. O diagnóstico está feito, as razões detectadas, mas os problemas persistem. É fácil atribuir todos os insucessos à incompetência dos que governam.

Qual o nosso papel enquanto sociedade? Que responsabilidade e com que grau de compromisso exigimos e nos envolvemos com os que nos governam? Porque não nos mobilizamos mais? Percorro vários ambientes académicos e verifico que há excelentes professores, investigadores, alunos mas também péssimas, pequenas e medíocres mentes. Ao nível de chefias intermédias há de facto gritantes exemplos. As resistências a propostas novas continuam a imperar, certas universidades continuam a premiar a endogamia e outras pouco ou nada promovem a competição saudável entre pares.

Atitude e facto positivo verifico na relação entre a universidade e algumas empresas/indústria. A importância e necessidade dessa ligação manifesta-se, por exemplo, no recrutamento de investigadores e no exercício do mecenato. São poucas as que participam neste processo, mas justiça seja feita a algumas a quem pessoalmente devo reconhecimento pelo seu envolvimento no projecto que coordeno. As barreiras existentes, fruto de culturas diferentes, parece-me que podem ser ultrapassadas, tendo presentes as características peculiares tanto da academia como das empresas.

Que ferramentas do GPS lhe parecem particularmente interessantes, e porquê?

A iniciativa é bastante meritória, tanto mais que permite criar e reforçar laços entre Portugal e as demais comunidades. Parece constituir-se como um elemento facilitador do estímulo à inovação, e à mobilidade de capital humano. É de louvar que tenha definido metas como o estabelecimento de pontes entre as competências existentes em diversos sectores, e a circulação de ideias por forma a que se mantenha a postura internacional das coisas, viva, eficaz e saudável.

GPS é um projecto da Fundação Francisco Manuel dos Santos com a agência Ciência Viva e a Universidade de Aveiro.
GPS/Fundação Francisco Manuel dos Santos
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

«Em França, os bolseiros têm direito a subsídio de desemprego – uma utopia em Portugal»

Entrevista a Joana Teixeira de Sousa, investigadora doutorada no Virginia Institute of Marine Science, nos Estados Unidos. «Continuo a ver doutorados e mestres a viver de bolsas de curta duração, e uma vez terminadas, não terem direito a subsídio de desemprego ou qualquer apoio social. Tudo isto faz com que a maioria seja obrigada a sair do país ou então a mudar completamente de ramo.»

Joana Teixeira de Sousa
Pode descrever de forma sucinta (para nós, leigos) o que faz profissionalmente?

Sou bióloga e especializei-me em biologia marinha, mais concretamente na área da citogenética e na aquacultura de moluscos bivalves. Actualmente estou a finalizar o meu primeiro pós-doutoramento num centro de selecção e melhoramento genético da ostra americana (Crassostrea virginica), inserido no Virginia Institute of Marine Science (College of William & Mary) em Virginia, EUA.

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Este centro, Aquaculture Genetics & Breeding Technology Center (ABC), visa produzir ostras com um desempenho superior para os aquicultores, como por exemplo uma melhor tolerância a doenças, maior crescimento e melhor sobrevivência. Para além da selecção e melhoramento da ostra diplóide (em que as suas células têm duas cópias de cada cromossoma - estado característico da maioria dos animais) também produzimos ostras triplóides e tetraplóides (ostras que possuem três e quatro conjuntos de cromossomas, respectivamente).

 Por ser estéril, a ostra triplóide canaliza toda a sua energia para o crescimento (em vez da reprodução) e apresenta também um melhoramento do teor de carne, sabor e textura, permitindo ser consumida durante todo o ano, e não apenas nos meses com “r”. Esta é uma técnica muito usada em espécies vegetais como a banana, o morango e a melancia que comemos diariamente, mas apenas nas últimas décadas se tem desenvolvido em bivalves, como neste caso a ostra.

No entanto, e apesar das suas indiscutíveis vantagens para a aquacultura, as ostras poliplóides apresentam instabilidade cromossómica, perdendo alguns destes cromossomas extra ao longo do seu desenvolvimento. O objectivo do meu trabalho é melhor compreender esta instabilidade cromossómica, a sua herdabilidade e possíveis consequências para o animal. Para além disso também ajudo com frequência a equipa técnica durante a época das desovas (Primavera/Verão) na maternidade, na manutenção do cultivo e saídas de campo.

Agora pedimos-lhe que tente contagiar-nos: o que há de particularmente entusiasmante na sua área de trabalho?

O que mais me entusiasma no meu trabalho é poder fazer um tipo de ciência com resultados práticos, ajudando de forma directa o sector industrial na produção de ostras, que têm um papel sócio-económico de extrema importância nesta região dos Estados Unidos. Graças ao desenvolvimento da aquacultura nesta região, o número de ostras tem vindo a aumentar exponencialmente, depois de esta espécie quase ter sido dizimada no início do século XX devido à sobrepesca, doenças e poluição. Para além do grande valor económico e gastronómico, as ostras têm também um papel fundamental no ecossistema, podendo cada animal filtrar entre 75 a 200 litros de água por dia, tornando-a mais limpa e transparente e permitindo uma maior incidência dos raios solares. Um animal incrível e com super poderes.

Outra das razões pela qual adoro o meu trabalho é a variedade de tarefas com que me deparo no meu dia a dia. De manhã posso estar no laboratório ao microscópio a procurar cromossomas ou a contar larvas de ostra, como de tarde já posso calçar umas botas, entrar num barco e ir fazer trabalho de campo. É um trabalho muito dinâmico, que me dá destreza e capacidade de trabalhar em diversos ambientes.

Por que motivos decidiu fazer períodos de investigação no estrangeiro e o que encontrou de inesperado nessa realidade académica?

Comecei o meu doutoramento em 2011 em Portugal (Tavira), no Instituto Português do Mar e da atmosfera (IPMA). A minha bolsa de doutoramento foi financiada por um projecto europeu que tinha a colaboração de várias instituições de diversos países. Através deste projecto acabei por ir para França em 2012, onde continuei a minha investigação no Instituto Ifremer (Brest). Durante o meu doutoramento também tive a oportunidade de trabalhar 3 meses em Itália, na Universidade de Pádua. Sem dúvida que a falta de opções para continuar o meu trabalho em Portugal me fez sair do país, mas em ciência, uma ou mais experiências no estrangeiro valoriza enormemente o currículo profissional, e por isso senti-me privilegiada.

O que mais me impressionou em França foi a qualidade da investigação que se faz, o profissionalismo de todos os investigadores e técnicos com quem me cruzei e os recursos materiais disponíveis para trabalharmos. Já para não falar do facto de todos os bolseiros terem direito a subsídio de desemprego (uma utopia ainda para Portugal). Em Itália achei o panorama científico muito parecido com o de Portugal, nomeadamente na falta de oportunidades para os jovens investigadores.

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No entanto, e como a maioria dos cientistas portugueses, todos eles com um enorme espírito de sacrifício e motivação em continuar a lutar para o bem da ciência que fazem. Nos Estados Unidos o que mais me impressiona é o facto da ciência não se limitar unicamente às universidades. Aqui é cada vez mais frequente o sector industrial contratar doutorados, reconhecendo que as capacidades desenvolvidas durante a trajectória académica trazem uma mais-valia para o sector.

Que apreciação faz do panorama científico português, tanto na sua área como de uma forma mais geral?

Nos últimos anos tenho ouvido falar nas inúmeras tentativas e promessas do governo português em apostar no mar e no desenvolvimento da aquacultura e pescas. Tenho a esperança que não passem apenas de promessas e que realmente se consiga aproveitar este recurso tão presente no nosso país: o nosso mar e as nossas rias. No geral, e apesar das inúmeras promessas do ministro da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior em aumentar o emprego científico, ainda continuo a ouvir falar demasiado da precariedade deste ramo em Portugal. Continuo a ver doutorados e mestres a viver de bolsas de curta duração, e uma vez terminadas, não terem direito a subsídio de desemprego ou qualquer apoio social. Tudo isto faz com que a maioria seja obrigada a sair do país ou então a mudar completamente de ramo, como muitos dos meus colegas de licenciatura.

Gostava de ver o sector industrial do meu país a olhar para os cientistas de outra forma. Nem todos os doutorados têm de trabalhar em universidades, em institutos de investigação ou serem professores catedráticos, nem sequer há lugar para todos. As capacidades que desenvolvemos durante os anos de estudo e investigação dá-nos ferramentas únicas para sermos capazes disso, claro que sim, mas não só. Outra coisa que também faz falta em Portugal é a divulgação da ciência ao público em geral. Abram as vossas instituições uma ou duas vezes por ano, mostrem os vossos laboratórios e o que fazem lá dentro. Usem as redes sociais de uma forma lúdica, simples e divertida. Desenvolvam actividades interactivas com crianças e adultos e mostrem que não somos (apenas) ratos de laboratório que só sabem conversar usando palavras difíceis que ninguém entende.

Que ferramentas do GPS lhe parecem particularmente interessantes, e porquê?

Qualquer ferramenta que ajude na divulgação da ciência é decerto bem-vinda. Com cada vez mais cientistas portugueses a abandonarem o país, por opção ou necessidade, faz todo o sentido o GPS existir. É bom saber onde andamos nós, cientistas portugueses, e o que andamos a fazer para o avanço da ciência em todo o mundo.

GPS/Fundação Francisco Manuel dos Santos
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

"Ser-se proactivo é algo que não é cultivado suficientemente em Portugal"

Entrevista a Diogo Geraldes , que vive no Reino Unido e é designer de implantes ortopédicos para pacientes particularmente debilitados. Nascido em Ponta Delgada, Diogo Geraldes é doutorado em biomecânica pelo Imperial College de Londres e trabalha numa empresa britânica. Esta entrevista foi realizada no âmbito do GPS - Global Portuguese Scientists, um site onde estão registados os cientistas portugueses que desenvolvem investigação por todo o mundo.

Diogo Geraldes
Pode descrever de forma sucinta (para nós, leigos) o que faz profissionalmente?

Chamo-me Diogo Geraldes e sou designer de implantes ortopédicos feitos à medida do paciente na empresa Stanmore Implants/Stryker em Londres (Reino Unido). Lido principalmente com casos extremos para os quais não há soluções comercialmente disponíveis, nomeadamente em oncologia pediátrica e cirurgia de resgate.

Antes de trabalhar na indústria fiz o doutoramento em Biomecânica no Imperial College. Foi também no Imperial College que fiquei a fazer investigação e desenvolvimento de produto durante três anos de pós-doutoramento, testando e patenteando um implante para o ombro. Tenho também estado envolvido em projectos bastante distintos, desde o estudo da influência das actividades locomotoras do dia-a-dia nas propriedades materiais do osso com implicações a nível da prevenção de fracturas osteoporóticas; a categorização dos mecanismos pelos quais o glaucoma pode afectar o nervo óptico e conduzir à cegueira; ou optimização do design de implantes ósseos.

Agora pedimos-lhe que tente contagiar-nos: o que há de particularmente entusiasmante na sua área de trabalho?

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Trabalho muito com pacientes para os quais a alternativa ao implante individualizado seria a amputação, imobilização completa ou às vezes até a morte. Os implantes que desenho têm como principal objectivo melhorar as condições de vida dos doentes e resgatar partes do corpo que eram dadas como perdidas. Para tal crio soluções individualizadas em conjunto com os melhores cirurgiões ortopédicos e oncologistas mundiais.

Cada caso chega à minha secretária com um diagnóstico e uma ideia inicial de tratamento. Depois de analisar as imagens médicas do paciente, proponho diferentes opções ao médico e, através de discussão contínua, o design vai progredindo iterativamente até convergirmos para a solução mais adequada. A partir daí torno-me gestor de projecto para cada implante, fazendo com que estes sejam produzidos com rigor técnico e qualidade pela qual a minha empresa é reconhecida internacionalmente. Sou depois convidado muitas vezes a presenciar a operação, de forma a dar o necessário apoio técnico.

Fico, por isso, assim, bastante ligado a cada caso. Este lado humano do meu trabalho é o que me dá mais prazer. Por exemplo, trabalho muito com crianças para as quais criamos implantes dotados de mecanismos que permitem crescer ao mesmo ritmo que o resto do esqueleto, evitando malformações futuras e problemas biomecânicos e até estéticos. Colaboramos também na realização de cirurgias que devolvem função a doentes com cancro terminal para enfrentarem com qualidade de vida, dignidade e menor sofrimento a última fase da sua vida. Lembro-me de quase todos os mais de 150 implantes pelos quais fui responsável. Para mim cada um deles é especial e único. E o acompanhamento, nalguns casos, das respectivas cirurgias de colocação dos implantes permite-me taméem percepcionar as dificuldades resultantes da sua aplicação e aperfeiçoar, no futuro, essa técnica de criação de soluções individualizadas.

Por que motivos decidiu emigrar e o que encontrou de inesperado no estrangeiro?

A minha mudança para o Reino Unido foi bastante inesperada. Frequentava o primeiro ano de Engenharia Biomédica no Instituto Superior Técnico de Lisboa quando aproveitei uma visita a Londres durante as férias da Páscoa para visitar o famoso Imperial College. Foi durante uma conversa com um dos coordenadores do curso equivalente, que gentilmente se prontificou a dar-me informações sobre o curso, que surgiu a oportunidade de apresentar a minha candidatura para frequentar o mesmo curso no Imperial College.

Foi assim que aprendi a primeira lição sobre a importância de ser proactivo, algo que não é cultivado suficientemente em Portugal. O universo académico que encontrei contrastava bastante com aquilo a que estava habituado, desde logo pelo multiculturalismo evidente dos que trabalham no sector de investigação que espelha a vontade de atrair o melhor talento global. Depois verifiquei que é a responsabilidade do académico angariar grande parte do financiamento para investigação do seu grupo, sendo que a estabilidade da sua posição profissional depende muito da qualidade e quantidade de trabalho que produz e financiamento que obtém. As universidades têm também quantidades de financiamento numa ordem de magnitude maior que as portuguesas.

Que apreciação faz do panorama científico português, tanto na sua área como de uma forma mais geral?

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Há muitas instituições de renome em Portugal que também põem em prática o que melhor se faz no Reino Unido. Nessas instituições é igualmente feito muito bom trabalho com pessoas de grande calibre. No entanto, Portugal tem o problema de não ter indústria desenvolvida em muitas áreas, o que dificulta a relação simbiótica entre as empresas e as universidades que leva à aplicação directa dos avanços que se vão fazendo nos laboratórios e grupos de investigação, criando novos campos de investigação científica. A minha área de especialização é um bom exemplo disso: tirando vendas e marketing, não é possível trabalhar no desenvolvimento de implantes ortopédicos. Como não há empresas que os desenvolvam, muito do conhecimento que é gerado nas universidades não é transmitido para o mundo comercial.

Vejo também que ainda persistem em Portugal práticas que desprezam a meritocracia. Os processos de atribuição de bolsas ou de emprego são pouco claros, há falta de transparência e de informação, o que gera um sentimento de desânimo e desmoraliza quem os observa de fora. No entanto penso que isso vai melhorando na medida em que regressam ao país investigadores que se encontravam no exterior.

Que ferramentas do GPS lhe parecem particularmente interessantes, e porquê?

Penso que o GPS é uma excelente iniciativa. Já era tempo de começarmos a catalogar a diáspora de cientistas portugueses e de criar uma plataforma de divulgação do excelente trabalho de investigação feito tanto nacional como internacionalmente. O mundo em geral, e a ciência em particular, estão a tornar-se cada vez mais globais e interconectados. Temos que tirar proveito destas características para continuarmos a produzir trabalho de qualidade. O GPS permite também a comunicação dos avanços científicos de uma forma fidedigna e a conexão directa entre o cientista e o público em geral, uma relação cada vez mais importante na era pós factual em que vivemos.

GPS/Fundação Francisco Manuel dos Santos 
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"A investigação que se faz em Portugal não é pior do que a que se faz nos Estados Unidos"

Entrevista a Mafalda Sousa Ferreira, bióloga portuguesa que estuda as mudanças da cor do pêlo dos animais entre estações.

Nascida em Vila Nova de Gaia, Mafalda Sousa Ferreira é aluna de doutoramento da Universidade do Porto, mas colabora também com a Universidade de Montana, nos Estados Unidos. Estuda as mutações genéticas por detrás das mudanças da cor do pêlo dos animais entre estações. Esta entrevista foi realizada no âmbito do Global Portuguese Scientists (GPS) - um site onde estão registados os cientistas portugueses que desenvolvem investigação por todo o mundo.

Mafalda Sousa Ferreira
Pode descrever de forma sucinta (para nós, leigos) o que faz profissionalmente?


Sou bióloga de formação e aluna de Doutoramento na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e no Centro de Investigação para a Biodiversidade e Recursos Genéticos. Eu estudo evolução, o processo pelos quais os organismos se diversificam e diferenciam dando origem a outros organismos. Para estudar evolução, uso como organismo modelo uma espécie de lebres norte-americana chamada lebre-de-cauda-branca. Estas lebres estão distribuídas por uma grande área nos Estados Unidos e, em algumas áreas, mudam de cor para branco no Inverno enquanto que, noutras áreas, mantêm-se castanhas o ano inteiro.

No meu trabalho, pergunto, muito simplesmente, porque é que algumas lebres mudam de cor e outras não? Apesar de a pergunta parecer ser simples, responder é mais complicado! Parece evidente que as lebres que mudam de cor para branco estão em áreas em que cai neve no Inverno, o que lhes permite camuflarem-se e evitar predadores. Mas o que realmente me procuro perceber é o mecanismo molecular que permite a mudança de cor. Que genes estão por trás desta característica? Para responder a esta pergunta estou a procurar diferenças entre os genomas (o conjunto de todos os genes de um indivíduo) de indivíduos que mudam e não mudam de cor.

Agora pedimos-lhe que tente contagiar-nos: o que há de particularmente entusiasmante na sua área de trabalho?

É-me sempre difícil explicar porque é que o que faço é interessante, sendo uma ciência tão guiada pela curiosidade e sem um fim imediatamente prático. Mas de facto, tal como Darwin, o que me motiva é perceber como se forma toda a diversidade de formas, cores e comportamentos que vemos na natureza. Como é que a vida surgiu e como evolui de simples células até formas complexas, como os humanos ou as lebres? O que é que torna possível a existência de formas tão diversas, mesmo dentro da mesma espécie? Basta olharmos para os nossos animais domésticos para nos apercebermos de como uma única espécie contém em si a capacidade para uma diversidade de formas tão notável. Sabemos hoje que essa diversidade está codificada nos genes. Mas que genes contribuem para a diferença entre um Chihuahua ou Rottweiler? E que forças moldam os genes para produzir animais tão diferentes? Para mim, estudar evolução acaba por ser, de certo modo, espiritual. Aplicando métodos científicos, tento entender fundamentalmente o que somos e como surgimos.

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Por que motivos decidiu emigrar e o que encontrou de inesperado no estrangeiro?

Para mim, seria absolutamente impossível realizar o meu projecto sem colaboração com a Universidade de Montana. O meu doutoramento depende da contribuição de pessoas que trabalham sobre as lebres norte-americanas há décadas e por isso estão muito familiarizadas com a ecologia da espécie e com o seu habitat no terreno. Mas, também, o meu doutoramento tem uma forte componente genética. Na Universidade de Montana colaboro com um investigador que é especialista em genética da evolução.

Como aluna de doutoramento, esta colaboração permite-me aprender imenso tanto acerca da minha espécie, como acerca dos métodos que tenho de aplicar para a estudar. Ultimamente, o objectivo é produzir um trabalho mais completo e com mais impacto na comunidade científica. Pessoalmente, é para mim muito enriquecedor poder contactar com uma cultura de trabalho diferente. Como acontece também noutras áreas, os Estados Unidos têm muita influência na minha área por fazerem investigação de grande impacto. Na minha opinião isso deve-se, por um lado, à maior disponibilidade de recursos e a um ambiente de trabalho muito particular.

O ambiente não só é muito activo, com muitas trocas de ideias e discussões, como competitivo. Mas também, e surpreendentemente, as pessoas tratam-se muito informalmente e “à vontade”. Acho que existem menos formalidades no trato entre alunos e professores do que em Portugal. Isso dá mais confiança aos alunos para porem questões, apresentarem as suas ideias e serem, no final, mais autónomos e melhores cientistas!

Que apreciação faz do panorama científico português, tanto na sua área como de uma forma mais geral?

A minha experiência internacional mudou bastante a minha perspectiva em relação ao ambiente científico em Portugal. Por um lado, de uma forma positiva, apercebi-me que a investigação que se faz em Portugal não é pior do que a que se faz nos Estados Unidos, por exemplo. Somos tão ou mais capazes de fazer óptima ciência. Precisamos, talvez, de ser mais confiantes, mais intrépidos e mais competitivos! Arriscar concorrer a grandes projectos de investigação, a grandes prémios ou a tentar publicar nas melhores revistas.

Por outro lado, de uma forma negativa, vejo que a ciência ainda é pouco valorizada em Portugal. Ligando ao meu primeiro ponto, um investigador só vai cometer riscos que o tornem mais competitivo se tiver condições de trabalho e alguma garantia de estabilidade. A meu ver, é necessário que as bolsas que sustentam correntemente alunos de doutoramento e investigadores pós-doutorados sejam convertidas em contratos de trabalho, com os devidos descontos e benefícios sociais. Também acho que é também necessário um esforço das instituições para que haja uma maior ponte entre as universidades e o mercado de trabalho e as empresas.

Como é óbvio, não é possível que todos os investigadores em formação acabem por formar o seu próprio laboratório e a sua linha de investigação. Essas pessoas têm de ser absorvidas pelo mercado de trabalho em empregos ligados à indústria, tecnologia, biotecnologia e preservação da natureza, por exemplo.

Que ferramentas do GPS lhe parecem particularmente interessantes, e porquê?

Acho que o GPS pode funcionar como um ponto de encontro entre investigadores portugueses por todo o mundo. A ciência é uma área sem fronteiras e, obrigatoriamente, qualquer investigador tem de se deslocar em alguma altura da sua carreira. Para mim é uma vantagem tremenda poder contactar alguém da minha nacionalidade que esteja a trabalhar e a viver no meu ponto de destino, alguém que conheça o lugar e talvez a instituição para a qual me dirijo. Ter um contacto num ponto de destino dá-me mais confiança para partir à aventura. Poderá também ser uma porta para uma colaboração! O GPS abre a porta a este intercâmbio de pessoas e de ideias e desde início achei que seria uma ferramenta espectacular. Espero que convença alguém a mudar-se para Montana!

GPS/Fundação Francisco Manuel dos Santos
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Jovens, Transmontanas, irmãs e escritoras

São jovens, transmontanas, irmãs e escritoras. Débora Macedo Afonso e Sara Macedo Afonso são duas irmãs que nos chegam de Carção, concelho de Vimioso, e têm dedicado parte da sua vida à escrita. O Notícias do Nordeste foi falar com as manas escritoras para dar a conhecer duas jovens apaixonadas pelos livros.

Jovens, Transmontanas, irmãs e escritoras. Sara Macedo Afonso (Esquerda) e Débora Macedo Afondo (Direita)
Notícias do Nordeste: Quem são Débora e Sara Macedo Afonso?  

Débora Macedo Afonso: Euzinha, sou uma jovem sonhadora e divertida, que gosta de passar o tempo livre entre livros, mas principalmente gosta de escrever: criar histórias e levar a imaginação o mais longe possível. Adora viajar (ir de férias): todo aquele ambiente, desde de preparar a bagagem até voltar à casa, é delicioso. Gosta de dançar, fez um curso de danças latinas há quase 2 anos e gostou bastante. Gosta de conduzir, acha que se algum dia ficar sem a carta de condução, ou quando for velhinha e a proibirem de conduzir, vai sofrer muito. Gosta de fazer bolinhos, e não é para se gabar mas tem boa fama, tanto que neste momento está a dedicar-me a um novo projecto – Maria Americana – confecção de bolos típicos americanos.

Sara Ana Macedo Afonso: Tenho 28 anos, nasci em Paris (França). Vivo e trabalho na aldeia de Carção, concelho de Vimioso. Trabalho no ramo da panificação e doçaria tradicional.

Notícias do Nordeste: Débora, como surgiu o seu interesse pela escrita?

Débora Macedo Afonso
Débora Macedo Afonso: Recordo-me de que quando era pequena, adorava ter livros novos, sentir aquele cheiro único que os livros têm quando acabam de chegar.... Aproveitava então, quando vinha um "senhor distribuidor" à escola vender livros, para pedir à minha mãe para comprar só mais um da colecção "Pingu". Ficava fascinada com as imagens que vinham naqueles livros infantis, costumava ficar admira-los enquanto a minha irmã me lia a sua história.

Mais tarde, quando a minha irmã publicou a sua primeira obra, "Enquanto o tempo quiser", foi quando me rendi verdadeiramente a literatura e comecei a olhar os livros com outros olhos. O gosto pela escrita, acho que surgiu mais recentemente, quando o meu tempo livre ficou mais alongado e decidi dedicar-me a inventar histórias, e tentar ser eu a escrever aquelas coisas do amor que os livros possuem. Foi então que descobri que é fantástico colocarmos no papel aquilo que nos vai na alma, e mesmo que depois ninguém leia, até porque às vezes não queremos mostrar, penso que é um bom mecanismo de terapia, é relaxante.

Notícias do Nordeste: E no seu caso, Sara, como surgiu esse interesse pela escrita?

Sara Ana Macedo Afonso
Sara Ana Macedo Afonso: De natureza tímida, desde cedo com uma paixão louca pela leitura, vi na escrita um jeito de chegar às pessoas, de ter a minha voz. No início surgiu como uma terapia, mas também porque sempre fui muito imaginativa, e adorava inventar histórias…

Notícias do Nordeste: Débora, de que falam os seus livros; que temáticas abordam?

Débora Macedo Afonso: Os meus livros, que na verdade é um enredo dividido em 2 volumes, é uma história que aborda o amor, a amizade e algumas das peripécias que acontecem na juventude… (De forma mais detalhada): a vida acadêmica é algo que está muito presente no 1º livro – Fomos Instantes, e a dificuldade de quando se embarca pela 1ª vez no mercado de trabalho faz parte do 2º livro – Mais Do Que Instantes, que retrata os personagens numa fase já mais adulta. Em ambos os livros, visto que se trata de uma história apenas, os personagens vivem intensamente a amizade e claro tratando-se de um romance, há muito amor no ar.

Notícias do Nordeste: E no seu caso, Sara, também falam de amor os livros que escreve? Que temáticas abordam?

Sara Ana Macedo Afonso: A base daquilo que escrevo é o amor. A minha forma de escrever é simples, sem rodeios, intimista, intensa. Franca. São textos poéticos onde expresso o que me vai na alma. Onde descrevo situações do dia-a-dia, desabafos, formas de ver a vida. Às vezes mais pessoal, outras vezes pura ficção…Mas sempre tentando transmitir uma mensagem de amor, de esperança, de verdade.

Notícias do Nordeste: Débora,quantos livros já publicou?

Débora Macedo Afonso: Tenho 2 livros publicados. Publiquei o meu 1º livro em Junho de 2015 - Fomos Instantes com a Chiado Editora. E, em Junho de 2016 lancei o meu segundo livro - Mais Do Que Instantes, também editado pela Chiado Editora.

Notícias do Nordeste: Faço-lhe a mesma questão Sara...

Sara Ana Macedo Afonso: Comecei em 2008, com o Enquanto o tempo quiser, e em 2010 repeti com o título: Ver-me nos teus olhos, com a mesma editora; Corpos editora. Este ano, no dia 4 de Fevereiro lancei o meu 3º livro com o título Infinito/Somos feitos da mesma terra, um dois em um, com a editora Vieira da Silva.

Notícia do Nordeste: Débora Macedo Afonso, vamos propor-lhe uma auto- reflexão sobre a sua escrita. Fale-nos um pouco sobre os seus livros.

Débora Macedo Afonso: “Fomos Instantes” foi publicado em Junho de 2015 (1º livro). Surgiu da inspiração de experiências académicas, das peripécias da vida, e de toda a paisagem montanhosa que me rodeia, deste modo, tentei colocar no papel um pouco daquilo que é ser estudante em Trás-os-Montes.

Vitória e Guilherme são os personagens principais, e são eles que ao longo das páginas mostram aquilo que há de melhor em Bragança e arredores, principalmente Miranda do Douro, uma vez que a personagem Vitória é de lá, contando o dia-a-dia de uma vida académica. Vitória era aluna no Instituto Politécnico de Bragança e frequentava o seu último ano de licenciatura quando descobriu a magia do primeiro amor. Ela era responsável e determinada mas viu a sua vida virada do avesso ao apaixonar-se perdidamente por Guilherme, um jovem de pensamentos incertos e atitudes inconstantes. Para além da Vitória e do Guilherme, que dão todo o enredo à história, ela também conta com outros personagens: Carmo, Jorge e Ema são a família de Vitória, dando a ela todo o conforto necessário.

Para preencher o aconchego do lar, a mãe de Vitória tem duas irmãs fantásticas: a Leonor e a Fátima. Leonor, a tia mais velha, é divorciada e tem dois filhos, Fátima, é a mais nova do trio, é casada de fresco e tem um bebé. Em Bragança, Vitória tem amigas espectaculares. Partilha a casa (apartamento) com a Aurora, a Bruna e a Érica, juntando-se a Adriana, a amiga da cidade, para completar o quinteto. Juntas vivem momentos de loucura, mas o mais importante é que estão sempre presentes para se apoiarem umas às outras.

Ao longo da história surgem mais personagens, desenvolvendo um papel significativo: Diego Vegas (um deles), é o “espécie de guia” de Vitória, quando esta decidi embarcar numa aventura e fazer o seu estágio em Paris, na Ópera da Bastilha.

Mais Do Que Instantes” (2º livro) trata-se da continuação de Fomos Instantes e surgiu da vontade de querer continuar a escrever, bem como de concluir a história de Vitória. Aqui (nesta 2ª parte) a história desenvolve-se já numa fase mais adulta, quando os personagens embarcam no mercado de trabalho, mostrando assim as primeiras complicações e as dificuldades por que se passa.

Vitória leva o seu sonho a cabo, dando início à sua carreira após finalizar a sua licenciatura em Animação e Produção Artista. Neste percurso o romance continua surgindo aqui novas etapas (obstáculos a ultrapassar), e a amizade também está presente ao longo das páginas. O palco desta narrativa é mais uma vez, Bragança e Mirando do Douro, contando claro com outras cidades. (Não há muito mais que possa dizer se não conto os livros todos).

Notícias do Nordeste: Sara, o que pedimos à sua irmã, pedimos-lhe igualmente a si. Fale-nos um pouco dos seus livros.

Sara Ana Macedo Afonso:Enquanto o tempo quiser” surgiu assim com arrebatamento, intensidade, mas muito simples, muito cru, muito singelo. Era eu a expor-me ao mundo, basicamente. Passados dois anos, decidi repetir a experiência. Apesar de todos os receios senti que tinha corrido bem, que tinha encontrado um caminho diferente para me dar a conhecer à vida. E surge o Ver-me nos teus olhos, com a mesma editora. Se é muito diferente? Há um crescimento, uma mudança de rumo, menos pessoal talvez. São livros que falam sobre os sentimentos. Sobre a vida. No primeiro é também uma declaração de amor às pessoas mais importantes da minha vida...

O “Enquanto o tempo quiser” está dividido em 3 partes: Pessoas dedicadas, 7 pecados, palavras soltas. Na primeira parte são declarações de amor puro e incondicional aos meus pais, à minha irmã, à minha família, as minhas amigas...Textos que já existiam há muito e que senti necessidade de e

Mostrar-lhes como tudo o que me estava a acontecer só fazia sentido pôr os ter na minha vida. Seguimos para a 2º parte onde escrevo 7 textos para os 7 pecados. E por fim, os textos onde falo sobre a vida, o amor, o suicídio, a desilusão, a morte, o amor não correspondido...

É um turbilhão de emoções próprio de uma adolescente da altura. No 2º livro tentei deixar-me de lado e apenas escrever sobre aquilo que me rodeava. Descobri com este livro que já há muito que eu ficava atenta às conversas alheias, às pessoas que passavam na rua, às letras das músicas, à cena daquele filme...

Percebi que eu era como que um «aspirador» e tudo aquilo me inspirava para escrever as minhas histórias. Sim, são textos soltos, são poesia. Para mim são mini-contos onde cada texto tem um protagonista onde desabafa aquilo que lhe mói, lhe move...

Infinito” (3ªlivro) é um conjunto de textos soltos com uma mensagem de amor e esperança. São textos com uma ligação entre si, criando assim uma história de uma mulher que nos vai contando a sua vida amorosa e as várias voltas e reviravoltas que essa relação tem. São um conjunto de uns 50 textos. E depois? Depois temos um outro título, uma outra capa, e mais textos. E esta é a grande novidade desta minha volta. Com ajuda da minha editora que alinhou comigo nesta minha ideia, temos assim 2 em 1. Este outro lado do livro, com uma outra capa, um outro título (Somos feitos da mesma terra) e com textos que eu lhe chamo de cariz social. Isto é, vamos encontrar textos que são autênticos desabafos da autora, onde reclamo, aplaudo, choro e rio pelo mundo onde habito. São textos de esperança, de dor, de tristeza, de amor... São pequenas formas de querer um mundo melhor...

Notícias do Nordeste: Para terminar esta conversa a três, Débora, faça para os leitores do Notícias do Nordeste uma pequena biografia de si, enquanto pessoa e escritora.

Débora Macedo Afonso: Nasci a 10 de Maio de 1993, e sou portuguesa, tendo muito orgulho em ser transmontana. Frequentei a primária na minha aldeia (Carção), e depois fiz o básico em Vimoso, tendo ingressado na Escola Secundária Emídio Garcia de Bragança no secundário, e em seguida no Instituo Politécnico de Bragança, onde frequentei o curso de Línguas para Relações Internacionais.

o longo da minha educação e formação fui uma pessoa activa, tendo participado em alguns eventos tais como: Forúm Económico De Trás-os-Montes - Núcleo Empresarial da Região de Bragança, Associação Empresarial (2014), I Jornadas Ibéricas de Educação Social - Instituto Politécnico de Bragança (2011), Maratona da Geografia - Escola Secundária Emídio Garcia de Bragança (2011), entre outros. Tive ainda a oportunidade de realizar o programa ERASMUS, tendo estado em Varsóvia (Polónia) durante 5 meses, do qual tenho uma experiência gratificante.

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O meu percurso na escrita iniciou-se ainda enquanto estudante do Instituo Politécnico de Bragança, tendo publicado o meu primeiro livro em 2015 – Fomos Instantes com a Chiado Editora. Com a edição deste livro sugiram vários desafios no mundo literário, do qual já não me imagino sem. Em Agosto de 2015, criei um blog intitulado THE MAGIC OF WORDS, onde desde aí tenho vindo a publicar diversos artigos que estão dividido em 4 rubricas, abordado desta forma: mino-contos, outros escritores e viagens. Em 2016, lancei o meu segundo livro, novamente com a Chiado Editora – Mais Do Que Instantes (a continuação de Fomos Instantes). No mesmo ano, organizei juntamente com a minha irmã, também escritora, o 1º Festival dos Livros em Carção, cuja missão foi promover os livros de autores transmontanos. O nosso slogan é: LIVROS SEM PARAR DURANTE 2 DIAS INESQUECÍVEIS.

No festival tivemos diversas actividades: desde uma feira permanente com livros de autores transmontanos, cerca de 15 autores que se inscreveram nesta iniciativa e marcarão presença durante estes 2 dias, tivemos também o lançamento do livro “Versos da Madrugada” de António Prada Jerónimo, uma palestra com a autora Margarida Pizarro do livro “Em busca das borboletas”, uma conferência com a editora Capital Books, uma apresentação do livro “O Milagre em Bragança” de Fernando Calado, uma apresentação do livro “Prometo Perder” de Pedro Chagas Freitas (ele próprio fez a apresentação e esteve presente para uma sessão de autógrafos) e claro houve muita animação a cargo da Escola Pé de Dança (Luís Paulo), Amartes (momento musical), Mélanie Fernandes (momento de magia).

O festival irá regressar em 2018, sendo eu e a minha irmã, as organizadoras (como no 1º). Com a publicação dos meus livros, tive o privilégio de receber o “diploma de honra” que me foi atribuído pela Associação Portuguesa de Poetas - Núcleo de São Paulo (Brasil), nomeadamente pelo excelentíssimo Adriano Augusto da Costa Filho - Delegado / Coordenador da A.P.P., a título dos meus dois livros - Fomos Instantes e Mais Do Que Instantes. Actualmente encontro-me a frente de um projecto já há muito desejado – Maria Americana, confecção de bolos típicos americanos. Continuado, claro, a escrever, que é algo que gosto muito.

Notícias do Nordeste: E no seu caso, Sara, o percurso é semelhante? Fale-nos um pouco de si, enquanto pessoa e escritora...

Sara Ana Macedo Afonso: Foi em Carção (Portugal) que fiz a instrução primária, passando depois por Vimioso e mais tarde acabando o secundário em Bragança. Ainda estive em Vila Real, iniciando o curso de Línguas e relações internacionais na Utad, abandonando um ano mais tarde.

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Foi em 2008 que editei o meu primeiro livro: Enquanto o tempo quiser, repetindo a experiência em 2010 com o livro Ver-me nos teus olhos, com a Corpos Editora. Participo desde então na Revista Almocreve (agora extinta) com textos alusivos à minha aldeia e também sou membro do Movimento Poético Nacional e da Casa do Poeta em São Paulo no Brasil, onde os meus textos são publicados em jornais com vários poetas lusófonos. Ainda participo esporadicamente na plataforma Capazes, e no blogue Sobre Livros e na Revista Catarina Lucas. Tenho também uma página no facebook onde todos os dias presenteio os seguidores com textos, surpresas, novidades e artigos. Aqui fica o link . Tenho um site , em homenagem à minha mãe.

Sou organizadora juntamente com a minha irmã, também escritora, Débora Macedo Afonso, do 1ºFestival dos Livros em Carção que teve como objectivo divulgar e promover os autores transmontanos e criar um ambiente de cultura e convívio na aldeia. Adoro viajar, conhecer outros locais e culturas, gosto muito da minha profissão.

Como seria de esperar, um dos meus passatempos preferidos é ler. Adoro Charlotte Bronte e Camilo Castelo Branco. Gosto de música e dançar. Sou muito ligada à família. Gosto de fazer caminhadas ao ar livre e tomar café com os amigos. Cinema é uma paixão. E gosto muito de tirar fotografias, a pessoas quando elas não estão a contar…São sempre as melhores fotos.

Sou uma eterna sonhadora…

"O peixe de aquacultura é bom e recomenda-se"

Entrevista a Ana Teresa Gonçalves , bióloga portuguesa que estuda no Chile formas de melhorar a saúde dos animais em aquacultura. Nascida em Lisboa, Ana Teresa Gonçalves trabalha hoje em Concepción, no Chile, onde desenvolve estratégias nutricionais saudáveis para o bem-estar dos animais em cultivo intensivo. Esta entrevista foi realizada no âmbito do Global Portuguese Scientists (GPS) - um site onde estão registados os cientistas portugueses que desenvolvem investigação por todo o mundo.

Ana Teresa Gonçalves

Pode descrever de forma sucinta (para nós, leigos) o que faz profissionalmente?

Sou bióloga marinha e pesqueira, especializei-me em saúde animal em aquacultura e actualmente sou investigadora em nutrigenómica de salmões na Universidade de Concepción no Chile. O meu trabalho é investigar o potencial de suplementos funcionais, como os pré ou probióticos introduzidos na dieta de salmões em cultivo. Faço-o através da avaliação do estado de saúde e alterações benéficas na microbiota intestinal e expressão de genes relacionados com funções importantes como o metabolismo ou a resposta imunitária.

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A ideia é desenvolver estratégias nutricionais alternativas, livres de químicos e drogas, que aumentem o bem-estar animal e a resistência dos peixes ao stress do cultivo intensivo. A ferramenta que utilizo para avaliar o efeito das dietas que desenvolvemos é a nutrigenómica, em que aplico técnicas de sequenciação massiva de genes para ter uma avaliação global de como se activam ou suprimem os processos biológicos mais importantes.

Com esta aproximação temos como objectivo produzir peixes mais saudáveis e resistentes a doenças e a factores stressantes, e desse modo não só reduzir a necessidade da utilização de drogas terapêuticas como os antibióticos, mas também o aumento da sustentabilidade do sector aquícola, não só no Chile mas a nível mundial.

Agora pedimos-lhe que tente contagiar-nos: o que há de particularmente entusiasmante na sua área de trabalho?

A ideia é simples: eu hoje tenho a sorte de ainda ter acesso a peixe selvagem que foi pescado (oxalá de modo sustentável) e que não sofreu qualquer intervenção humana no seu percurso de vida, mas infelizmente não sei se a próxima geração vai ter a mesma sorte. Mas tenho a certeza que vamos querer continuar a comer peixe, quanto mais não seja pela qualidade proteica que representa. Assim sendo, a aquacultura é sem qualquer dúvida a alternativa.

Então, gosto de pensar que se temos de produzir peixe, eu dedico-me a fazer os possíveis para que esse peixe seja de qualidade e tenha uma vida o mais saudável possível, e dar um contributo para um mundo (alimentar) melhor. Durante o mestrado e o doutoramento estudei o efeito de uma bactéria probiótica (que está presente nos iogurtes) na saúde de peixes em cultivo e descobri que esse efeito era óptimo.

A ideia de base é utilizar produtos de origem natural e tentar dar à natureza o que a natureza nos dá. Do mesmo modo que os iogurtes são benéficos para nós, regulando a nossa microbiota intestinal, os probióticos neles presentes são igualmente benéficos para os peixes porque protegem o intestino, que é um dos órgãos mais importantes nos vertebrados.

Acho fascinante poder fazer algo tão simples como alimentar peixes com uma dieta suplementada com uma bactéria de iogurte ou uma simples levedura de pão, e conseguir que estes peixes tenham um sistema imunitário muito mais activo e funcional e um intestino saudável mesmo quando são produzidos em cultivos intensivos. Infelizmente o sector aquícola não tem ainda a confiança do consumidor que deveria ter, mas através do meu trabalho (e de tantos outros investigadores fantásticos), quando me perguntam, posso dizer que sim: o peixe de aquacultura é bom e recomenda-se!
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Por que motivos decidiu emigrar e o que encontrou de inesperado no estrangeiro?

Em 2005, eu fiz o meu estágio de licenciatura em Biologia Marinha e Pescas da Universidade do Algarve numa piscicultura industrial intensiva. Durante esse período fiquei com a certeza de que o que queria fazer no meu futuro era dedicar-me a encontrar estratégias profiláticas para evitar a utilização de antibióticos em aquacultura.

Para isso tinha de encontrar algum sitio onde a qualidade do peixe fosse uma prioridade e de preferência onde fosse possível ter uma bolsa e poder dedicar-me a tempo inteiro a estudar e a investigar. Portugal era uma opção pela qualidade de programas de mestrado mas não pela parte de financiamento. Idealizei um potencial procjeto para mestrado e concorri a uma bolsa de estudo no Japão. O governo do Japão teve interesse na minha proposta e recebi bolsa de mestrado e de doutoramento na Universidade de Ciências Marinhas e Tecnologia de Tóquio.

Como é possível imaginar encontrei muitas coisas inesperadas no Japão, mas ao fim de sete anos de estudo e investigação posso dizer que o que mais me surpreendeu foram os contrastes. É um país que conjuga harmoniosamente a tecnologia de topo com o tradicional e o natural. Durante esses anos pude aprender bastante e construí um caminho que me levou até ao Chile em 2013, mais especificamente, Concepción. Pouco sabia desta cidade para além de que foi bastante castigada por um terramoto e tsunami (nada novo para quem viveu no Japão). Chegando cá encontrei um país com um enorme potencial a nível científico, e tive a sorte de integrar um grupo de trabalho jovem e dinâmico com um nível cientifico de ponta, difícil de encontrar onde quer seja no mundo.

Que apreciação faz do panorama científico português, tanto na sua área como de uma forma mais geral?

Na área de nutrição em aquacultura, Portugal exporta conhecimento. É um tremendo orgulho ir a conferências internacionais e encontrar sempre investigadores portugueses a mostrarem o excelente trabalho que realizam, às vezes com grande dificuldade a nível de financiamento. Somos reconhecidos a nível internacional e o nível cientifico que há em Portugal é magnífico. Infelizmente, a nível de financiamentos e estabelecimento de prioridades a nível orçamental observo uma letargia crónica nos órgãos governativos que impede que se saia do campo da demagogia.

Fala-se em mudança e em vontade de dar um passo em frente, mas na prática o estado sub-letal do financiamento mantém-se. São de louvar os colegas que ficaram e que não baixaram os braços, e que continuam a levantar o nome de Portugal mesmo contra a maré. São um exemplo e por eles não desistirem há esperança de que um dia (oxalá em breve) quem define as prioridades do nosso país se dê conta de que não há avanço nem desenvolvimento sem investigação e que vale a pena investir em ciência em Portugal.

Que ferramentas do GPS lhe parecem particularmente interessantes, e porquê?

A possibilidade de criar redes de conhecimento interdisciplinar é para mim uma das maiores vantagens que o GPS tem. Proporciona aos cientistas portugueses conhecer o trabalho de colegas nas mais diversas áreas e junto com a geolocalização é uma ferramenta de networking muito poderosa. Vejo este ponto como muito importante pois hoje em dia a ciência desenvolve-se a nível global e ter uma rede interdisciplinar a dar input de conhecimento é a base para responder a problemas de magnitude crescente.

GPS/Fundação Francisco Manuel dos Santos
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

"Contribuir para a miniaturização na tecnologia é entusiasmante e motivante"

Helena Silva é investigadora de engenharia de materiais e nanotecnologia na Universidade do Connecticut, nos Estados Unidos. O seu fascínio pelo potencial transformador da sociedade garantido por estas tecnologias é patente nesta entrevista, que foi realizada no âmbito do Global Portuguese Scientists (GPS) - um site onde estão registados os cientistas portugueses que desenvolvem investigação por todo o mundo.

Helena Silva
Pode descrever-nos (a nós, leigos) de forma sucinta o que faz profissionalmente?

Trabalho na área de dispositivos electrónicos, que se situa nas áreas de engenharia electrónica ou física aplicada, e tem como objectivo geral desenvolver melhores dispositivos – mais rápidos e mais eficazes, com maior funcionalidade e menos energia despendida – para todo o tipo de aplicações electrónicas. A área de dispositivos electrónicos está entre a física dos materiais utilizados (física do estado sólido) e o estudo de como ligar estes dispositivos da melhor forma dependendo do objectivo (circuitos electrónicos). O dispositivo electrónico mais utilizado é o transístor de silício, que é a base de quase toda a electrónica actual, e numa escala verdadeiramente impressionante, com biliões (10^9) destes transístores em chips de áreas ~ 1 cm^2! Os dispositivos electrónicos são geralmente formados por várias camadas de diferentes materiais (condutores, isoladores e semicondutores) e múltiplos contactos eléctricos, de forma a obter interrupção ou amplificação de sinais eléctricos num circuito. A parte semicondutora é o princípio activo dos dispositivos.

A área de dispositivos electrónicos faz também parte, e foi a grande impulsionadora, das nanotecnologias. O progresso na electrónica deveu-se essencialmente a miniaturização dos dispositivos, permitindo maior velocidade e funcionalidade em cada vez menos espaço e com menos energia, e conduziu ao desenvolvimento de toda a tecnologia que foi permitindo esta miniaturização. Actualmente os dispositivos em processadores são os objectos funcionais fabricados mais pequenos e têm dimensões na ordem dos 10 nanómetros (10^-9 m, nm). Para pôr esta escala em perspectiva, lembramo-nos por exemplo que o ADN é uma cadeia hélica de ~ 1nm de diâmetro, o vírus da gripe tem um diâmetro ~ 100 nm, e um cabelo humano ~ 100,000 nm de diâmetro.

No nosso laboratório na Universidade de Connecticut, Laboratório de Nanoeletrónica, estudamos novos tipos de transístores de silício e nos últimos anos temo-nos também concentrado em dispositivos baseados em materiais que mudam de fase (entre amorfa e cristalina) muito rapidamente (nanosegundos) e que são muito promissores para memória electrónica não-volátil, 1,000x mais rápida do que a actual. Apesar dos imensos progressos nesta área nos últimos 10 anos, muitos problemas continuam por perceber e resolver. Trabalhamos também em aspectos de termoelectricidade (conversão directa entre calor e electricidade) nestes e noutros dispositivos electrónicos. O trabalho no laboratório envolve a fabricação de dispositivos, caracterização eléctrica e microscópica, e modelos computacionais. Para além do trabalho de investigação, dou aulas de licenciatura e pós-graduação nas áreas de electromagnetismo, física e tecnologia de dispositivos electrónicos e nanotecnologías.

Agora pedimos-lhe que tente contagiar-nos: o que há de particularmente entusiasmante na sua área de trabalho?

Nas últimas décadas têm vindo a ser estudadas e desenvolvidas várias alternativas para substituir o transistor de silício, o qual passados mais de 60 anos continua a ser difícil de superar, mas que está a atingir os limites possíveis de miniaturização. Hoje em dia várias destas alternativas parecem estar a alcançar uma maturidade útil para tecnologias electrónicas futuras que permitam ainda maior velocidade e funcionalidade e progressos em muitas e variadas áreas como inteligência artificial para sistemas autónomos ou computação avançada para aplicações médicas. Contribuir de alguma forma para estes desenvolvimentos é entusiasmante e motivante.

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Investigação em nanoelectrónica contribui também para os nossos conhecimentos de materiais e comportamentos electrónicos em geral e pode conduzir a avanços científicos e tecnológicos em áreas para além da dos dispositivos directamente. Um exemplo está relacionado com a conversão de energia termoelétrica, que estudamos no nosso laboratório, e cuja adopção prática tem sido limitada devido a eficiências muito baixas. Recentemente, tem sido observado que dispositivos em nano- e micro-escalas e utilização de materiais nano-estruturados parecem oferecer maior eficácia termoeléctrica e podem levar a uma maior utilização destes dispositivos para aproveitamento de calor desperdiçado (em veículos ou processos industriais, por exemplo).

Por que motivos decidiu emigrar e o que encontrou de inesperado no estrangeiro?

Não foi propriamente uma decisão de emigração, mas antes uma decisão de ir estudar fora. O plano era o de fazer o doutoramento nos Estados Unidos e de voltar para uma carreira científica, acadêmica ou na indústria, em Portugal. Estava a acabar o curso de Engenharia Física Tecnológica no IST, e durante os dois últimos anos tinha feito parte do laboratório de investigação de dispositivos electrónicos no INESC Lisboa, liderado por vários investigadores doutorados nos Estados Unidos. Fui "contagiada" pelo entusiasmo que encontrei neste laboratório pela área de dispositivos electrónicos e pela investigação em geral e decidi concorrer a programas de doutoramento nos Estados Unidos. Comecei o doutoramento em Física Aplicada na Universidade de Cornell, onde continuei na área de dispositivos, e onde usufruí de um ambiente académico geral muito interessante e enriquecedor. Depois do doutoramento tive oportunidade de continuar a trabalhar em ciência, primeiro num centro de investigação da Xerox, no norte do Estado de Nova Iorque, e depois na Universidade de Connecticut. As coisas foram correndo bem e fui ficando, com viagens a Portugal tão frequentes quanto possível.

Talvez um aspecto inesperado tenha sido o nível de internacionalização, diversidade, nas universidades americanas, em que, nas áreas de ciência e engenharia, a maioria dos estudantes pós-graduados, professores e investigadores vêm de outros países, e se interage com colegas de praticamente todo o mundo. Outro aspecto inesperado, também demográfico, foi o baixo número de mulheres em ciência e engenharia nos Estados Unidos, muito abaixo dos números em Portugal, que resulta em muitos programas para tentar atrair mais jovens mulheres para a ciência e me fez passar a ser parte de uma minoria.

Que apreciação faz do panorama científico português, tanto na sua área como de uma forma mais geral?

Vivo há muitos anos nos Estados Unidos e infelizmente não estou muito a par do panorama científico actual em Portugal. Vou sabendo de várias iniciativas para continuar a expandir a ciência e o papel da ciência em Portugal e sei que há muitos centros de investigação muito produtivos. Vou sabendo também, especialmente nos últimos anos, das dificuldades de financiamento científico que seguem as dificuldades económicas gerais do país. A minha experiência de investigação em Portugal, como estudante de licenciatura, foi muito satisfatória e gratificante, e na altura (1996-1998) não senti quaisquer limitações em termos de recursos disponíveis. Trabalhei num laboratório muito activo e muito bem equipado no INESC Lisboa. Durante este período recebi até de uma Bolsa de Iniciação à Investigação Científica da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) para estudantes de licenciatura. Fui depois também bolseira de doutoramento da FCT, o que me proporcionou uma vida de pós-graduação confortável sem preocupações financeiras. Tive, portanto, oportunidades muito boas que espero que continuem disponíveis para os jovens agora a iniciar carreiras científicas em Portugal.

Que ferramentas do GPS lhe parecem particularmente interessantes, e porquê?

Fiquei muito entusiasmada quando soube da rede GPS e penso que é uma iniciativa muito interessante e necessária para ligar investigadores portugueses em Portugal e por todo o mundo. A possibilidade de encontrar cientistas portugueses por região, nome ou área científica é muito útil e pode fomentar maior comunicação e divulgação científica, colaborações entre laboratórios e cooperações sociais e educacionais. A rede pode também ser utilizada para facilitar a comunicação e apoio entre bolseiros, informação para alunos de licenciatura interessados em pós-graduações e encontros periódicos de cientistas em Portugal e noutros locais. Uma comunidade dinâmica de cientistas espalhados por todo o mundo com o interesse comum da ligação a Portugal pode criar muitas possibilidades.

GPS/Fundação Francisco Manuel dos Santos 
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

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